« Voltar para o Blog

Como apoiar a luta das mulheres para além do 8 de março

Para lembrar que os “parabéns” precisam vir sempre acompanhados de ações

Todo 8 de março é a mesma coisa: flores e elogios enaltecendo nossa beleza, doçura e superação. Não somos guerreiras e cuidadoras “por natureza”, fomos socialmente ensinadas a ser assim. A guerreira que precisa dar conta de tudo, a mulher dócil que precisa cuidar de todos sem reclamar. Mas estamos sobrecarregadas e exaustas por cumprir os mais diversos papéis sociais que nos colocam sempre nessa posição de cuidado com os outros: quem limpa a casa, organiza a alimentação das crianças, a rotina escolar, cuida dos familiares que envelhecem, lava as roupas do companheiro – e as tarefas nunca terminam.

O Dia das Mulheres não é uma data comemorativa, mas sim um dia de luta no qual as mulheres trazem pautas importantes de serem discutidas em sociedade. Para aplicar essas pautas, é preciso também se deslocar de lugares de privilégio já estabelecidos e agir para acabar com o machismo no dia a dia. Pensar em formas para que as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens já têm.

Ações práticas para apoiar a luta das mulheres

Vivemos em uma sociedade machista e patriarcal. Essas opressões são estruturais, e não individuais. Ao reconhecer esse fato, podemos entender que estamos todos sendo educados a partir dessa perspectiva e reproduzindo essas opressões em algum nível. Logo, podemos também ter ações diferentes para mudar a sociedade da qual fazemos parte. 

Djamila Ribeiro disse que “a inação contribui para perpetuar a opressão”, portanto precisamos agir na direção da mudança que desejamos – e isso significa que muitas pessoas (em geral, homens) vão precisar abrir mão de muitos dos seus privilégios já estabelecidos.

Quais ações você pode ter no seu dia a dia para não perpetuar o machismo?

  1. Estude a si próprio: reconheça o seu machismo nas ações diárias
  2. Nomeie: ao nomear as opressões que você ou outra pessoa tem, podemos então combatê-la
  3. Escute: pergunte e dedique tempo de qualidade para compreender as demandas das mulheres
  4. Aprofunde: leia autoras feministas como bell hooks, Silvia Federici, Chimamanda Ngozi Adichie, Lélia González.
  5. Fortaleça: apoie Coletivos, ONGs e movimentos de mulheres
  6. Questione: busque referências sobre masculinidades saudáveis como Papo de homem, Alexandre Coimbra Amaral, Renato Noguera.
  7. Observe: você divide igualmente o trabalho de cuidado doméstico e emocional nos seus relacionamentos com mulheres?
  8. Paute: nos seus círculos de amigos homens, questione e condene qualquer tipo de violência contra as mulheres, mesmo em forma de piada. Não se abstenha.
  9. Mude: comprometa-se a abrir mão do seu lugar de privilégio em benefício da equidade de gênero no seu cotidiano. Engaje-se nessa luta.

Ao praticar essas ações estaremos colaborando com um espaço mais justo, seguro e saudável para as mulheres. Entretanto, essas são atitudes que vão ser refletidas a nível social somente dentro de alguns anos – se começarmos a agir agora. Para combater o que já ocorre, precisamos também nos organizar em grupo.

O feminismo como fortalecimento das mulheres

Uma mulher é vítima de feminicídio a cada 6 horas no Brasil, segundo a pesquisa “Feminicídios em 2023”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que explica: considera-se feminicídio quando o crime decorre de violência doméstica e familiar em razão da condição de sexo feminino, em razão de menosprezo à condição feminina, e em razão de discriminação à condição feminina (Bianchini, Bazzo, Chakian, 2022).

Para combater essas violências que sofremos é importantíssimo nos organizarmos com outras mulheres e levarmos o feminismo como uma luta coletiva na mesma direção: a de cessar o quanto antes esses dados alarmantes. Cobrar das autoridades medidas para que possamos viver de forma digna e exercer nossa liberdade com segurança – seja andando na rua ou dentro da nossa própria casa. 

Temos nossa vida atravessada por violências físicas, psicológicas, sexuais, morais. E é preciso reconhecê-las, afinal, três a cada dez brasileiras já foram vítimas de violência doméstica – sendo 89% de violência psicológica, 77% moral, 76% física, 34% patrimonial e 25% sexual, segundo pesquisa do Instituto DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV). Ser mulher é viver em constante alerta e medo da violência.

A partir da luta feminista buscamos tornar a sociedade um lugar mais seguro para vivermos. O modus operandi do patriarcado nos quis apenas nos espaços privados, mas a história nos mostra que foi sempre juntas que conseguimos dizer não às opressões.

Amizades e fortalecimento da rede de apoio

bell hooks disse no livro Erguer a Voz que “diferentemente de outras formas de dominação, o machismo molda e determina diretamente relações de poder em nossas vidas privadas, em espaços sociais familiares, no contexto mais íntimo (casa) e nas esferas mais íntimas de relações (famílias)”.

É importante criar relações estreitas de amizade entre mulheres para não nos isolarmos em espaços privados de casa/família. A Pesquisa Nacional de Violência contra as Mulheres aponta que para 17% das brasileiras, a família é o ambiente em que a mulher é menos respeitada, e para outros 25%, o trabalho.

Se nos locais onde mais estamos presentes – nossa casa e nosso trabalho – não estamos sendo respeitadas, onde esse respeito está sendo exercido?

Ter uma rede de amizade bem fortalecida e presente pode te permitir sair de situações abusivas e desrespeitosas sabendo que tem com quem contar. Não centralizar a vida apenas a um núcleo familiar, mas sim a diferentes pessoas amigas que te apoiem, escutem e até mesmo alertem para situações de risco.

Geração após geração, vamos derrubando cercas, pintando horizontes e inventando pontes. Nada é simples nesse caminho, mas quando vamos juntas, podemos ir mais longe. Liderando projetos, aprovando leis, quebrando tabus e manifestando nossa potência em todas as áreas do saber. 

Atuar por uma sociedade mais justa não pode mais se limitar apenas a uma data, mas podemos utilizar a data para relembrar da importância dessa luta.

Arte de Luiza Guedes para a Mandala Lunar 2020

Comentar