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Sentimento de culpa: de onde ele vem, o que nos causa e como lidar

Comparações e ideais de comportamento social podem nos levar a pensamentos autodepreciativos e sensação de que não somos capazes ou merecedoras

Não consegui acordar tão cedo quanto gostaria. A pilha de livros segue crescendo ao lado da cama e eu não leio. Me comprometi a treinar todos os dias e não fiz nada essa semana. Sou uma péssima mãe. Atrasei a entrega dos trabalhos. Deixei minha amiga sem resposta. Falei coisas que não deveria para aquela pessoa. Menti. Eu sou uma pessoa horrível. Faço tudo errado, minha vida é uma droga.

Quantas vezes somos acometidas por esse tipo de pensamento, que nos coloca para baixo e faz parecer que nada do que fazemos é suficiente, que tudo o que fazemos é errado, que somos a pior pessoa do mundo?

O sentimento de culpa pode ser extremamente angustiante, paralisante e nocivo para nós. Parece que, por conta de um erro, uma falha ou algo que deixamos de fazer, somos capazes de entrar em uma espiral negativa, que amplia coisas. A sensação é de que tudo vai ruir, podemos sentir vergonha de nós mesmas, necessidade de autopunição ou até auto sabotagem.

Mas, ei! Pera lá! Precisa de tudo isso? Porque estamos nos julgando dessa forma? De onde vem esse sentimento? Ele é necessário? Como podemos lidar com ele quando ele aparece?

Em meio a toda essa tormenta, é preciso parar. Não deixar que esse sentimento se instale e tome conta de nós. Mas isso requer muito autoconhecimento e inteligência emocional.

Sentimento de culpa – de onde ele vem?

O sentimento de culpa aparece geralmente quando avaliamos e reprovamos nossas próprias atitudes. Tem a ver com algum tipo de violação das nossas crenças e valores, quando julgamos que não agimos de acordo com aquilo que nós acreditamos ou definimos como certo ou errado.

Mas também está muito relacionado a comparações. É como se existisse um parâmetro social, uma espécie de régua que determinasse um ideal de comportamento, um modelo perfeito de como devemos ser ou nos portar enquanto mulheres, mães, filhas, amigas, no ambiente de trabalho, em casa, nas nossas relações, etc.

A narrativa da sociedade machista, capitalista e de consumo nos exige constantemente alta performance, resultado, desempenho – ainda que isso signifique abrir mão de nós mesmas. E a vitrine das redes sociais pode agravar ainda mais a questão da comparação.

Só que esse padrão ideal (ou irreal) nos pressiona a tentar alcançá-lo a qualquer custo. Nessa busca, podemos ultrapassar nossos limites, dedicar muito tempo e esforço para chegar lá.  

E, depois de tudo isso, ainda ficar com a sensação de que não foi suficiente, de que não somos capazes. Nesse processo, pode surgir auto cobrança excessiva, autocrítica, além de pensamentos autodepreciativos, como se não fossemos merecedoras de coisas boas ou que sempre precisamos fazer mais e melhor.

Paralisia, angústia e tristeza

O sentimento de culpa pode ser extremamente prejudicial para nós. Ele pode ser uma faísca para desencadear uma série de pensamentos negativos, que nos colocam para baixo, nos causam dor e nos desmotivam a seguir em frente. É um desgaste emocional imenso que pode trazer consequências inclusive físicas, como doenças, dores no corpo e baixa imunidade.

Além disso, você pode acabar tomando atitudes ou fazendo coisas que não gostaria de fazer somente por culpa.

No entanto, é possível lidar melhor com isso.  Em algumas situações, é positivo sentir algum grau de culpa – desde que isso nos impulsione a reparar algum erro e nos colocar em movimento pela transformação.

Em vez de culpa, responsabilização

Quando avaliamos nossas atitudes e percebemos que fizemos algo que não foi legal, que nos arrependemos ou que prejudicou alguém, por exemplo, podemos nos responsabilizar, em vez de nos culpar. E tentar fazer algo para reparar.

Reconhecer um erro, pedir desculpa, propor alguma solução ou traçar um plano para melhoria é mais sadio e pode nos trazer uma sensação de bem-estar, nos movendo em direção à cura, proporcionando também uma relação melhor com os outros.

Ilustração de Maria Caribé

Quando a culpa vem, o que posso fazer?

Ainda que conscientemente saibamos que esse sentimento nos faz mal, ele pode sim voltar a aparecer. Quando isso acontecer, é possível tentar lidar de outra forma.

🌈 ACOLHER NOSSOS ERROS: Lembre-se que todas nós erramos. Errar faz parte do nosso aprendizado. Podemos tentar ser mais gentis com nós mesmas, entender que não temos controle e nem gerência sobre tudo, permitir e acolher nossas falhas.

🌈 AVALIAR RESPONSABILIDADES: Não se culpar é diferente de não se responsabilizar. Devemos sim nos responsabilizar por nossas atitudes, mas tentar olhar para elas de forma mais racional e prática, no sentido de tentar resolver, reparar e mudar. O erro e a autocrítica podem nos levar à melhoria. Mas se entrarmos na espiral da culpa, a tendência é paralisia e auto sabotagem.

🌈 IDENTIFIQUE OS GATILHOS: Entender o que causa o sentimento de culpa pode ajudar a avaliar melhor e estar mais consciente para lidar com ele quando aparecer.

🌈 EVITE COMPARAÇÕES: Perceba que o ideal comportamental pode ser extremamente cruel. Identifique o que faz sentido para você.

🌈 DIGA NÃO: Reconhecer limites, saber o que é melhor para si. Isso pode ajudar a você a não se cobrar tanto.

🌈 SAIA DA ESPIRAL: Se você perceber que está sendo tomada pelo sentimento de culpa, tente mudar seu pensamento, conversar com uma amiga, sair para caminhar, ouvir uma música. Depois, com a cabeça e o coração mais tranquilos, você poderá avaliar melhor a situação.

🌈 PEÇA AJUDA: se possível, procure acompanhamento psicológico. Conversar com uma terapeuta pode ser extremamente benéfico e necessário.

🌈 ESCREVA: quando o sentimento surgir, pegue um papel e uma caneta. Anote tudo. O que você está sentindo, o que aconteceu, como você pensa que poderia ser diferente, se há alguma forma de reparar a situação. Depois, mais calma, você poderá analisar seus registros como uma ferramenta de auto estudo e até mesmo dividir o conteúdo com a sua psicoterapeuta.  

🌈 COM OS OLHOS DE UMA AMIGA: muitas vezes, somos juízas impiedosas com nós mesmas. Mas você já pensou em olhar para você com o olhar generoso e carinhoso de uma amiga? Conte essa história novamente e escute como se fosse uma amiga contando. Escute sua própria voz. O que você diria para sua amiga? Provavelmente, você abraçaria ela. Então, seja sua amiga e se abrace.

🌈 LEMBRE-SE DA PLASTICIDADE DO CÉREBRO: O nosso cérebro pode ser treinado e moldado. Podemos direcionar nossos pensamentos para perceber as situações de forma mais leve e otimista. Experimente.

A MANDALA LUNAR COMO UMA COMPANHEIRA

A Mandala Lunar pode ser uma importante ferramenta de auxílio nesse processo. Um espaço seguro para você anotar o que pensa e o que sente, que poderá funcionar como um grande manual sobre você mesma. O exercício da escrita é extremamente terapêutico e contribui para o autoconhecimento, para darmos mais atenção às nossas emoções e adquirirmos mais inteligência emocional, desenvolvendo mecanismos e formas para lidar melhor com situações desafiadoras.

Ilustração de Julia Vargas

No diagrama lunar, você pode criar algum símbolo para mapear quando você visita a sensação de culpa ou está se cobrando demais durante a lunação. Aqui tem um post sobre aspectos para observar na Mandala Lunar e os diagramas com ícones e cores.

Leia mais: dicas para ter constância na escrita da Mandala.

Cometer erros faz parte da vida. Vamos juntas caminhar para que a culpa não nos tome, para sermos mais gentis com nós mesmas. E com a vida que segue! 🙂

3 Comentários

  1. Kaylane

    19 de julho de 2023

    amei ler!!

  2. Janete Martins Ramos

    2 de agosto de 2023

    Anotar me ajuda a me conhecer, e me conhecendo melhor, ajudo outras pessoas.
    Criei meu blog, mas ainda não tenho conteúdo, pois acho que preciso melhorar para ajudar e, assim o tempo vai passando e eu fico me culpando e buscando desculpas. Tenho tantas anotações, que já dá um livro.
    Anoto tudo, de livros, cursos, palestras, retiros, blogs,
    Aí me pergunto: O que me falta???
    Começar!!!💡🎯
    Por quê ainda não dei o primeiro passo? 😔
    Obrigada por me trazer a este conteúdo!
    Gratidão!🙏

  3. Lívia

    15 de agosto de 2023

    Li em um livro de psicologia sobre isso, olhar pra minha situação e erro, como se fosse a situação vivida por uma amiga. Isso me ajuda pra caramba, todos me acham boa conselheira e acolhedora amiga, mas comigo era cruel demais. Não me permitia ter falhas. Hoje tenho e me responsabilizo, mas não me culpo por ser humana. E sigo em caminho ao progresso sempre!

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