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“A Raiz do Brasil vem de nós. Somos as sementes de nossas ancestrais ” por Ingrid Sateré-Mawé 

Texto da entrevista feita por Silvia Zonatto com Ingrid Sateré-Mawé 

(Assessora Especial da Bancada do Cocar no Congresso Nacional)

Vivemos tempos em que cada pedaço de floresta derrubado e queimado, cada montanha perfurada, cada rio destruído pelo garimpo se traduz em secas ainda mais fortes na crise climática que estamos enfrentando. São tempos em que o lucro envenena o ar, a comida e a água. São tempos em que a Terra está sendo sacrificada no altar do capitalismo.

Vivemos há 522 anos, enfrentando o som da destruição com o som de nossos maracás e cantos sagrados. Nós, as mulheres indígenas, somos muitas transitando do chão da aldeia para o chão do mundo, somos as guardiãs dos saberes milenares e nunca estamos sós, caminhamos sempre acompanhadas pela força e presença de nossas ancestrais. Nossos corpos são os que estão na linha de frente do combate a esse modelo insustentável. A batida de nossos pés na Terra, por meio de nossas práticas espirituais, nos permite sustentar a batalha ancestral para não deixar que o céu desabe sobre nossas cabeças. São os saberes de cura ancestral que nos mantêm firmes em nossa luta. Cuidamos de nosso território-corpo para ter força para defender nosso território-terra. 

O patriarcado que hoje oprime nossos corpos não nasceu na natureza, porque a natureza não gera opressão e violência. O patriarcado foi construído culturalmente, então ele também pode ser desconstruído. Precisamos desenraizar todas as práticas opressoras que o patriarcado e o colonialismo fincaram em Abya Yala.

Nós, povos indígenas, somos 5% da população humana do planeta e protegemos 80% da biodiversidade. Isso significa que uma boa parcela da humanidade não está consciente de que precisamos regenerar a Terra. Por isso, fazemos um chamado às mulheres não indígenas para que se unam a nós para construir um novo projeto de mundo que não será possível sem essa união. Precisamos descolonizar e reflorestar mentes para a construção de uma sociedade do bem-viver e do amor. Propomos uma nova matriz energética, na qual todos os seres da natureza tenham direito à vida. É com esse desejo de lutar pela vida da Mãe Terra que nós chamamos vocês. 

Nós trabalhamos todos os dias para que as mulheres indígenas tenham voz e sejam respeitadas. Seguiremos firmes na luta pela vida das mulheres e de todos os biomas para reconstruir a democracia de nosso país. Aldeanos a política porque nossas vozes precisam ser ouvidas para a construção do futuro.

Temos recebido apoio de organizações e grupos de mulheres não indígenas que já escutaram o chamado e se uniram à nossa luta, apoiam a realização de nossos encontros e se fazem presente de muitas formas, pois já compreenderam que somos aliadas. Agora, nosso compromisso é caminhar junto com nossa ministra Sônia Guajajara e nossa deputada federal Célia Xakriabá na construção de um novo país. A luta pela demarcação de terras indígenas é um projeto que precisa ser cada vez mais amplo e coletivo porque são essas terras que vão garantir que a humanidade possa seguir respirando. 

Somos todas filhas da Terra. Escutem nosso chamado: A retomada é agora. 

A Terra é nosso corpo e nosso espírito. O Brasil é Terra Indígena!

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