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Sonhos premonitórios – o sonho como oráculo probabilístico

Você já sonhou com algo que, dias depois, aconteceu de forma surpreendentemente semelhante? Já acordou com a sensação de que recebeu um aviso, um pressentimento ou até mesmo uma mensagem? Os chamados sonhos premonitórios estão entre os fenômenos mais intrigantes da psique humana.

O tecido do tempo nos sonhos: premonição ou sincronicidade?

A ideia de “ver” o futuro em sonhos é tão antiga quanto a própria humanidade. Diversas culturas ancestrais reverenciavam os sonhos como portais para outras dimensões ou canal de comunicação com o divino. Mas o que a pesquisa moderna diz sobre essa fascinante possibilidade?

O neurocientista Sidarta Ribeiro, em O Oráculo da Noite, percorre a história e a ciência do sonho e relembra relatos de premonição que atravessam séculos – como o do bíblico José, que interpretou os sonhos do faraó sobre sete anos de fartura e sete de escassez — até episódios mais recentes. Embora a ciência ocidental ainda não reconheça a premonição como um fenômeno comprovado, Sidarta propõe que alguns sonhos possam revelar padrões probabilísticos, funcionando como ensaios de cenários futuros baseados em informações que já possuímos de forma inconsciente.

“Também a filósofa Vinciane Despret nos convida a ouvir outras formas de saber. Em vez de ver o futuro como algo fixo, ela propõe que algumas narrativas — como as dos sonhos — podem funcionar como “narrativas de antecipação”: não são previsões, mas formas de cuidar do porvir. Ao contar ou escrever um sonho, algo já se transforma. Sonhar, nesse sentido, é uma prática de atenção ao que ainda não tem nome.” (Laura Pujol, no texto Sonhos que Anunciam: o que o sonho sabe antes de nós

O que são sonhos premonitórios

Sonhos premonitórios apresentam imagens ou enredos que parecem antecipar acontecimentos futuros. Ainda não existe explicação consensual para esse fenômeno, mas trata-se de uma experiência relatada por muitas pessoas. Carl Gustav Jung relacionou esse tipo de sonho ao conceito de sincronicidade: coincidências significativas entre eventos internos e externos, que não guardam, necessariamente, relação causal.

O sonho como oráculo probabilístico e manifesto de futuro

Em Sonho Manifesto, Sidarta Ribeiro argumenta que a própria capacidade de sonhar constitui uma ferramenta evolutiva para a construção do porvir. Se, durante os sonhos, somos capazes de simular comportamentos, resolver problemas e processar emoções, é plausível que também possamos antecipar desfechos e os rumos possíveis da vida. A premonição, sob essa ótica, não seria um decreto, mas um convite à reflexão e à ação consciente.

Os sonhos podem funcionar como alerta, confirmação ou inspiração,  ajudando-nos a tecer um futuro mais alinhado com nossos propósitos. A pesquisa e o debate sobre os sonhos premonitórios nos instigam a manter a mente aberta para as múltiplas dimensões da consciência. Registrar nossas noites em um sonhário amplia esse diálogo com o inconsciente, revelando vislumbres do amanhã — não como algo imutável, mas como matéria-prima para a cocriação.

“Os sonhos que anunciam não vêm para assustar, mas para despertar. São convites sutis para a escuta. E mesmo os sonhos mais sombrios — aqueles que anunciam o fim de algo — podem ser acolhidos como presságios de passagem.”(Laura Pujol no texto “Sonhos que anunciam: o que os sonhos sabem antes de nós”, publicado no blog da Mandala Lunar). 

Referências

Ribeiro, S. (2019). O Oráculo da Noite: A História e a Ciência do Sonho. Companhia das Letras.
Ribeiro, S. (2021). Sonho Manifesto. Companhia das Letras.

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