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Eu estava entremundos, um lugar entre a vigília e o sonho. Pedi, dormindo, para que o inconsciente enviasse um sonho e que eu pudesse me recordar dele. Em seguida, uma imagem masculina surgiu: era uma espécie de demônio, com pele avermelhada, cor de telha, olhos enigmáticos, um sorriso quase imperceptível no rosto. Soube naquele momento que estava prestes a ir mais fundo no sonho, mas que antes precisaria atravessar o demônio. Em um primeiro momento, eu sentia um pouco de medo, mas entendi que o demônio não me faria mal. Eu precisava arriscar e aceitar o convite. Meneei um sim com a cabeça e passei por um portal, onde cenas de novos sonhos se apresentaram. Entendi que era um daemon, um guardião onírico, um missionário. Talvez alguns sonhos precisem que atravessemos o que potencialmente nos aterroriza para que, então, alcancemos camadas mais profundas do reino onírico.
Sonhei que estava com um grupo grande de pessoas em uma casa/festa. Em algum momento do sonho eu percebi que estava sonhando (sonho lúcido) e aí ficava repetindo: eu estou num sonho, está tudo bem. Depois lembro que estava andando em rua de Sydney e tinha uma escada grande, lembro que eu ficava decidindo pra onde ir mas não queria me preocupar pq era só um sonho 😅. Depois havia um parque, uma roda de pessoas fazendo yoga e vi minha instrutora de Biodanza agachada, vestindo um vestido azul, e ela estava com uma barriga bem grande de grávida. Ai eu fiquei em dúvida se aquilo era verdade ou ilusão de ótica, mas ela estava mesmo. No final do sonho eu estava me sentindo cansada de tanto andar e não lembro do desfecho.
Nesse sonho alguém estava conduzindo meu processo meditativo. Estava imóvel porém minha consciência projetada para outro plano e uma voz falava. Estava de moto e sabia que teria que correr para não perder o ônibus. Eu carregava comigo um papel higiênico e não me pergunte o por quê. Era noite e não queria perder aquele ônibus. Acelerei o quanto pude, quase furei um sinal. Fiz a curva e subi a rampa. Estava frio e eu acho q te nevava. Ainda bem que ele me esperou. Dentro do ônibus havia todo um universo diferente. Uma atmosfera diferente. Um aglomerado de pessoas que me pareciam regidas por outra configuração. Aquela voz apareceu e me questionava sobre valores e certo e errado. Isso e aquilo, a e b. Preto e branco. Quem disse que é assim. Aonde está escrito? Quem assinou. E se fosse diferente. Sabia que a viagem seria longa e entrei na brincadeira. Aceitei a desconexão. Comecei a ter sensações físicas no meu corpo real para além do sonho. Entrei em um processo de sonho lúcido meditativo que minha consciência projetava sensações, vozes, pensamentos mensuráveis por meus sentidos físicos.
Permiti tocar e ser tocada por aquela coletividade. Um pouquinho de cada um em um emaranhado vivo pulsante. O carnal além da carne pelo simples prazer.
A sensação que tive foi que o contrato assinado por nossa raça ditou que interações sociais seriam pelo diálogo e não pela conjunção, que o preto era preto e o branco branco. Convencionou que a esquerda e direita fica para os lados e não de cima para baixo. Mas me mostrou que existem infinitas possibilidades de configurações para além do que podemos imaginar.
Me disse que essa tomada de consciência nos leva a galope para uma porção mais interna de alguma coisa.
Neste mesmo momento tudo desapareceu.
Eu, enquanto consciência me liquefiz. Me tornei água que escorre. Enquanto a voz falava, eu escorria para o fundo vazando pelos poros entreabertos como terra mexida. Eu escorri.
E a voz continuou
Mas quando chegamos em nosso magma, o que sobra? E se as luzes se apagarem? Como você volta ou melhor, para onde você vai?
A terra se adensou a gota chegou ao fundo. Meu corpo aqui fora sentiu frio. Estava tudo escuro e vazio. Corri em milésimos de segundos por florestas, cidades pequenas, cidades grandes, parques, montanhas. Senti frio e estava um pouco assustada. O coração acelerado eu estava acordando. Tive medo.