O termo “autocuidado” tem sido esvaziado de seu significado mais profundo. Antes de ser sinônimo de skincare, maquiagens e outros hábitos de consumo da indústria “wellness”, em 1980, Audre Lorde lançou a ideia revolucionária de que a mulher deveria dar mais atenção a si mesma, à sua saúde, seus desejos, suas emoções e levar-se mais em conta – em um tempo no qual as mulheres se dedicavam quase que exclusivamente aos cuidados de outras pessoas.
Na lógica capitalista, patriarcal e racista, a mulher negra é a última a ser lembrada e cuidada. Por isso, Audre Lorde também escreveu, em seu livro “Os diários do câncer”: “Cuidar de mim mesma não é autoindulgência, é autopreservação e isso é um ato de guerra política”. Ela tornava o autocuidado também uma forma de manter-se forte (física e emocionalmente), para seguir lutando contra as injustiças sociais.
Por isso, hoje queremos retomar e também ampliar o sentido político do autocuidado. Em uma sociedade que nos esgota, rouba nosso tempo com a nossa família, nossos afetos, nosso descanso e para lutar pelo que queremos para nós mesmas e para o coletivo, cuidar de nós mesmas é resistência, é um projeto político para desarmar esse sistema de opressão aos nossos corpos e mentes.
A banalização e comoditização do autocuidado substituiu algumas de nossas necessidades mais profundas, por produtos. Essas necessidades envolvem muitas vezes o coletivo, como ter acesso a sistema de saúde qualificado e gratuito, à educação, ao descanso, à segurança, à justiça.
Por isso, nesta data lembramos a importância de ampliar o sentido de autocuidado trazendo aspectos individuais e coletivos também para essa prática. E também seguir os passos de Audre Lorde que nos lembra que autocuidado não é um novo produto a ser adquirido, mas sim buscar o que necessitamos, pedir ajuda, fortalecer nossa rede de apoio, aprender a dizer não e comunicar nossos limites e desejos.
Compreendendo o autocuidado de Audre Lorde, nos trazemos os seguintes questionamentos para pensarmos como o praticamos nas nossas vidas:
✨ Quais necessidades preciso suprir no dia a dia para me sentir nutrida?
✨ Para quem posso pedir ajuda quando sentir que preciso?
✨ Eu tenho conseguido comunicar os meus desejos e limites para as pessoas com as quais convivo?
✨ Quais práticas diárias fazem eu me sentir fortalecida?
✨ Como cuido de mim quando não preciso agradar a ninguém?
✨ Tenho conseguido praticar o autocuidado sem adentrar em excessos capitalistas?
Se desejar, escreva sobre essas reflexões na sua Mandala Lunar. Ela é uma ferramenta que busca ser apoio nesse caminho do autocuidado. Você pode responder as perguntas acima ou ainda escolher algumas temáticas que são importantes para você para observar cotidianamente e escrever tudo que desejar sobre esses tópicos – seja no diário ou no diagrama lunar.
Entretanto, o termo “autocuidado” e o olhar apenas para si pode ser incompleto. Podemos nos cuidar também cuidando das outras pessoas. O cuidado com o coletivo é tão importante quanto o cuidado consigo mesma, pois somos seres individuais e coletivos.
“Cuidado coletivo também deve ser compreendido com um ato político, que fomenta e fortalece espaços, medidas e ambientes seguros, saudáveis e adequados para que seja possível que ativistas e defensores de direitos humanos desempenhem suas atuações com resiliência e resistência”, como citou a Escola de Ativismo aqui nesse post.
Como você tem praticado o autocuidado? Se desejar, compartilhe com a gente nos comentários desse post para trocar com outras mulheres.
Referências: https://www.cartacapital.com.br/diversidade/quem-foi-audre-lorde-e-o-que-ela-nos-ensina-sobre-autocuidado-feminino/