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Doula: a lógica do cuidado 

A lógica do cuidado que a doula carrega vem de tramas longínquas, não é de hoje, não é do aqui e do agora, é sustenido por tempos, antes mesmo de existir protocolo, hospitais, cultura patriarcal, relógio, o parto acontecia inerente à vida e onde a vida acontecia: no quintal, na roça, nos chãos das casas, nas rodas de mulheres, nas ocas, nas casas, nas clínicas. 

E nas comunidades originárias, nas aldeias africanas, nos quilombos, nos povos ribeirinhos, na cidade, no palácio, nas tradições andinas, nas casas de taipa, nos terreiros, em todos esses lugares, sempre existiu uma mulher apoiando outra mulher, sendo suporte contínuo do campo emocional e corporal do parto.

A doula sempre carregou consigo o convite a descolonização do olhar do parto, pela perspectiva do tempo que é cíclico, reinventando a ordem da hierarquia dos corpos. 

Sabemos que parir é uma experiência subjetiva e que nos convida a lembrar que a linguagem do corpo é viva. 

A doula é o abraço silencioso, o olhar que sustenta, a mão que segura com firmeza amorosa e a presença que auxiliam a sustentar mundos. É o toque que alivia a dor do corpo e que contorna com amorosidade o processo de fragmentar-se enquanto constroi-se mãe.

A doula vem lembrar que nascer é um rito e que atravessar ele enquanto tudo parece novo demais não precisa ser solitário. Os anseios, medos, incertezas precisam de espaços seguros e acolhedores para serem acessados e que vulnerabilidade não tem em nada relação com fraqueza.

A doulagem é sobre resistência, sobre tecnologia do cuidado, sobre garantia de informação e sobre escolhas bem informadas, é sobre questionar como inserir ciência no cuidado, na humanidade e na sensibilidade às singularidades do gestar, do parir e do maternar. 

Doulagem é afeto e luta, na contemporaneidade ou na antiguidade! 

*E se você quer ainda nos ver diante da luta pela humanização do nascimento, apoie o projeto de lei Projeto de Lei (PL) 3946/2021, pela regulamentação da profissão da doula no Brasil. 

Texto de Samanta Giannico, do Gestar Parir Amar
Arte de Jaya Cósmica

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