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O Mundo já é incrivelmente encantado

Reconhecer verdadeiramente nossa humanidade é nos reconhecermos enquanto coletivos, é reconhecer as forças e formas de vida que nos dão vida, é compreender que nosso alimento, nossa própria substância, o substrato sobre o qual vivemos foi criado e é sustentado pelas plantas. Isso geraria uma espécie de humildade diante da vida coletiva nesse planeta. Se estivermos intimamente convencidos de que procedemos das plantas, teremos relações muito diferentes com elas, que são da ordem da reverência. Se tivéssemos um cúmplice, alguém que nos oxigena, um ser que nos dá o sopro da vida e simplesmente nos permite viver, como cuidaríamos dele? Como reconheceríamos e honraríamos essa relação? Quais serviços podemos lhes oferecer para viver melhor no mundo em que elas estão imersas, onde purificam nosso ar, fornecem nosso oxigênio, metabolizam nosso carbono?

Algo que me traz alegria é participar da vida das plantas que experimentam o prazer da polinização. Você pode fazer algo tão simples como pegar a rama de uma cenoura e, em vez de jogá-la na composteira, plantá-la no solo. Ela crescerá, florescerá, dará sementes e talvez atraia insetos polinizadores, alimentando, assim, os aliados das plantas. Gosto da ideia de que podemos participar ativamente dos relacionamentos e prazeres necessários para a sobrevivência das plantas (chamo essa preocupação com os seres além de nós mesmos “um serviço para a comunidade não humana”) como o prazer de mordiscar uma folha para os insetos, ou então o prazer que as plantas sentem quando conseguem capturar um pouco melhor a luz do sol. Nós nos abrimos assim para novas formas de relacionamentos, em que entendemos que qualquer ser vivo que sinta o mundo merece nosso respeito.

As plantas são incrivelmente generosas, elas dão muito. É preciso lhes pedir permissão quando você desenvolve sua relação com elas. Quando a relação é boa, elas são incrivelmente generosas com sua sabedoria. Elas querem compartilhar, e, portanto, se você estiver aberta ou aberto a isso, de forma profunda, então há muito o que aprender. As plantas são professoras, elas sabem nos ensinar como curar o planeta, como desintoxicar nosso mundo. Elas sabem como cuidar do ar, como socorrer o clima. É preciso escutá-las e aprender a receber delas. Elas podem nos dizer diretamente o que devemos fazer e são elas, aliás, que me dão suas instruções. 

Texto de Natasha Myers e arte de Karla Ruas para Mandala Lunar 2025

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