Dormir, descansar e sonhar são necessidades fisiológicas. Por meio do descanso o corpo se regenera e no sono profundo sonhamos. Os sonhos não são apenas eventos aleatórios sem importância, mas processos neurológicos importantes que ajudam no processo de aprendizagem, memória e mesmo de acesso a criatividade.
Ao longo deste texto, vamos do sono e dos sonhos, sua relação com a criatividade, a memória e o impacto do estresse.
O sono é composto por ciclos que se repetem em média de quatro a seis vezes por noite, cada um contendo quatro fases principais. Cada fase tem funções específicas e complementares para nossa saúde física, mental e emocional.
Fase 1 (sono leve): transição entre a vigília e o sono. O corpo começa a relaxar, e as ondas cerebrais diminuem de frequência.
Fase 2: o corpo esfria, os batimentos cardíacos desaceleram e o cérebro se prepara para um descanso mais profundo.
Fase 3 (sono profundo): ocorre o reparo celular, o fortalecimento do sistema imunológico e o descanso profundo, promovendo a restauração fisiológica do corpo.
Fase REM (movimento rápido dos olhos): é quando ocorrem os sonhos mais vívidos. O cérebro está altamente ativo — quase como se estivesse acordado — e é nessa fase que consolidamos memórias e exercitamos a criatividade.
Segundo Sidarta Ribeiro, em O Oráculo da Noite, “o sonho é um fenômeno natural, necessário e poderoso, profundamente enraizado na biologia dos animais e dos humanos”. Ele propõe que os sonhos funcionam como um laboratório mental — um espaço em que recombinamos memórias, simulamos situações futuras e resolvemos problemas complexos.
Quem nunca acordou com o coração acelerado após um sonho intenso? Os sonhos podem ser encantadores ou perturbadores e, muitas vezes, estão associados a momentos de forte carga emocional.
Em períodos de estresse, o cérebro continua processando informações de forma intensa durante o sono. Isso pode tornar os sonhos mais coloridos, fragmentados ou emocionalmente carregados. Em Sonho Manifesto, Sidarta Ribeiro, destaca que os sonhos não apenas revisitam o passado, mas projetam possibilidades futuras. Ao sonhar, exercitamos nossa capacidade de prever, planejar e adaptar.
Nesse contexto, os sonhos podem se tornar uma poderosa ferramenta de autoconhecimento.
Ao relaxar a mente consciente, abrimos espaço para que novas conexões se formem. Durante o sono REM, o cérebro desmonta e reorganiza experiências e cria novos significados a partir das memórias.
Não é coincidência que descobertas científicas, composições musicais artísticas e soluções inovadoras surjam “do nada”, depois de uma boa noite de sono — é o inconsciente em ação.
No Oráculo da Noite, Sidarta Ribeiro menciona diversos casos históricos em que os sonhos antecederam grandes ideias. Ele observa que “o sonho pode ser uma linguagem do cérebro para resolver problemas, explorar o desconhecido e integrar o aprendizado”. Ou seja: ao dormir bem e sonhar livremente, ampliamos nosso potencial criativo.
Nosso corpo segue ciclos naturais de expansão e recolhimento. Porém, o estímulo visual por meio das telas, o excesso de luzes e de informação pode levar ao estresse crônico nos desconectando desse ritmo natural, acelerando a mente a tal ponto que o sono se torna superficial e fragmentado.
A insônia, os despertares frequentes e os pesadelos são sinais de alerta. Técnicas como a respiração consciente, a meditação e o uso de plantas medicinais podem ajudar a preparar o corpo para um descanso mais profundo e restaurador.
Anotar os sonhos ao acordar pode ser uma prática simples e poderosa. Manter um diário dos sonhos ajuda a recordar imagens com mais clareza e a identificar padrões, emoções recorrentes e mensagens simbólicas. Pode ser um caminho de autoconhecimento e também de inspiração criativa, como mostram relatos históricos e saberes de diversas culturas.
Dormir não é apenas “desligar”— é um ritual, uma passagem, um território sagrado. Em um mundo que nos estimula a estar sempre alertas e produtivas, recuperar o descanso como um ato consciente é também um gesto de resistência e de amor próprio.
Algumas práticas para transformar o sono em um momento de reconexão:
Crie um ritual noturno: desacelere com chás calmantes, banhos quentes ou leituras suaves.
Evite telas antes de dormir: a luz azul interfere na produção de melatonina, hormônio essencial para o início do sono.
Registre seus sonhos ao acordar: eles carregam mensagens simbólicas e podem revelar aspectos importantes do inconsciente.
Para quem deseja melhorar a qualidade do sono, a “Higiene do Sono”, abordagem proposta pelo psicólogo Peter Hauri em 1977 oferece práticas eficazes, como reduzir o uso de telas à noite, criar um ambiente escuro e silencioso e manter horários regulares para dormir e acordar.
Priorizar a qualidade do seu descanso noturno é um gesto de autocuidado. Recomendamos a leitura do texto “Higiene do Sono: práticas de autocuidado para você dormir melhor” aqui no blog da Mandala Lunar.
Dormir bem é uma necessidade fisiológica, mas também pode ser um ato político, espiritual e criativo. Em um mundo acelerado e hiperconectado, permitir-se adormecer com consciência e acordar com os rastros dos sonhos é também uma forma de resistência. Um retorno ao tempo cíclico, à escuta interior e ao que há de mais profundo em nós.